Louco: Fuga - Crítica
E eis que mais um personagem querido da infância de muita gente, inclusive da minha, ganha uma nova versão, repaginada, para o selo Graphic MSP. Em Louco - Fuga, o artista Rogério Coelho usa de toda a sua experiência como ilustrador de livros infantis para criar um universo fantástico onde a figura mais maluca da galeria de Maurício de Sousa enfrenta grandes perigos para salvar um amigo.
Graças ao traço marcante do autor, o Louco percorre os cenários, cheios de detalhes, com movimentos leves, pulando de um quadrinho para o outro, com a mesma facilidade com que muda de uma realidade fantástica para o "mundo real". Mas quem já teve oportunidade de ler uma história estrelada pelo Louco sabe que o real e o imaginário se confundem o tempo todo. Não dá pra afirmar se o que ele diz é verdade ou inventado, e coisas realmente malucas sempre acontecem quando ele está por perto. A falta de ver mais dessas coisas nonsense espalhadas pela história me deixou um pouco decepcionado.
A obra possui uma aura de magia que conduz o leitor por momentos especiais como o primeiro encontro com Cebolinha e seus amigos, numa espécie de circo, e o pequeno conto do pássaro que inspira a imaginação dos criadores e contadores de história.
O visual dos personagens, dos pássaros, e de tudo mais ao redor, transmite uma sensação de vida e entusiasmo, em contraste ao visual frio e robótico dos Guardiões do Silêncio e do interior de sua fortaleza. Mas mesmo os vilões são muito bem ilustrados, em todos os seus detalhes mecânicos. Tudo isso valorizado pelo belo trabalho do colorista Francis Ortolan.
E então, retorno ao ponto que me desagradou: o roteiro. Não que a trama central seja ruim, ela não é, mas levando em conta o cenário rico criado pelo autor e as infinitas possibilidades que o personagem oferece, tive a impressão de que o resultado final ficou um tanto limitado.
O Louco de Rogério Coelho é simpático e transmite aquele ar despreocupado e descontraído do original, porém, falta-lhe alguma coisa. Talvez ele não seja louco o suficiente. Talvez devesse ter feito mais daquelas coisas impossíveis que ele faz e que deixa todo mundo com cara de espanto e sem entender nada. Mas apesar disso ele se destaca como uma figura central e carismática, algo que não vemos muito nos outros personagens.
Os encontros do Louco com as crianças são muito legais e até vemos um pouco daquela amizade e tiração de sarro com o "Cenourinha", mas existe ali na turminha uma quase ausência de personalidade, algo que piora muito com os vilões, que não fazem nada além de perseguir o herói.
É possível que o uso de caixas narrativas ao invés de balões, na maior parte do tempo, seja um dos motivos para esse distanciamento. Esse recurso aproxima o leitor do protagonista e faz com que ele veja a ação através dos seus olhos. Mas, ainda que isso torne o trabalho esteticamente maravilhoso, se assemelhando a um livro ilustrado, indiretamente joga em segundo plano os demais personagens, que não fazem uso dessa ferramenta.
Apesar disso, a sensibilidade do texto, em perfeita harmonia com os desenhos e as cores, torna a leitura bastante prazerosa, desde o seu início alucinante, até o seu desfecho arrebatador.
Ficha Técnica
Veredito: Ao terminar de ler esse volume da série Graphic MSP é possível que passe pela sua cabeça o seguinte pensamento: "Puxa, acabei de ler o álbum mais bem ilustrado de toda a coleção, porém com uma das histórias menos elaboradas". É fato que quase todos os volumes anteriores tinham histórias simples, mas elas funcionavam muito bem para os seus personagens, algo que, em minha opinião, poderia ter sido um pouco mais extrapolado em se tratando do Louco. Mas esse é um mero detalhe que não tira a satisfação de folhear esse belo trabalho admirando cada página. Eu, se fosse você, não seria louco de perder. ;)
Galeria
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