Planeta Herói: Review: Guerra Civil

Uma tragédia num confronto entre superseres é o gatilho para uma lei que regula a identidade e as atividades de mascarados em solo americano, causando um verdadeiro racha na comunidade heroica. Assim começa a Guerra Civil!

Guerra Civil - Crítica

Sem um grande vilão com ações malignas e planos para dominar o mundo, Guerra Civil coloca o leitor numa situação desconfortável ao mostrar um conflito de herói contra herói. Tão acostumados que estamos em ver os Vingadores e outros grupos lutando do mesmo lado, raramente paramos pra pensar nas divergências políticas e ideológicas que eles possam ter, e no quão frágil essa aliança pode ser diante de algo mais complexo do que lutar contra criminosos.

Motivado pelas mais de 600 vítimas que perderam suas vidas durante um confronto entre superseres num bairro residencial, Tony Stark se coloca a disposição do governo para encontrar, registrar e treinar cada indivíduo que apresente poder sobre-humano e que atue em solo americano, com ou sem o seu consentimento.

Contrário a qualquer medida arbitrária, Steve Rogers se posiciona no lado oposto da questão, criando assim um impasse que resulta na formação de dois grandes grupos de heróis, que se se dividem entre os que apoiam e os que rejeitam a ideia do controle.

Com dois lados bem definidos, Guerra Civil nos estimula o tempo todo a tomar partido de um ou do outro, apenas para, momentos depois, nos fazer questionar se escolhemos mesmo o lado certo. Essa mesma dúvida também permeia a mente de boa parte dos personagens da história, em especial o Homem-Aranha, que toma uma atitude ousada e polêmica em favor do grupo pró-registro, e depois se arrepende e se junta aos que lutam contra o regime imposto pelo governo.

A vasta gama de personagens é um dos pontos positivos da HQ, junto ao traço realista do desenhista Steve McNiven que retrata muito bem as emoções conflitantes de cada herói e toda a dificuldade em ter de enfrentar seus próprios amigos e, em alguns casos, até parentes. Nesse aspecto, destaco o Quarteto Fantástico, que tem seus membros divididos entre as facções, e os X-men, que se mantém coerentemente neutros durante boa parte da história. Entre os grandes heróis Marvel, é sentida apenas a ausência do Hulk, que se encontrava em outro planeta, e do Thor, que na verdade está presente, de certa maneira.

O roteirista Mark Millar também acerta em mostrar os dois "generais" de cada lado fazendo concessões aos seus próprios métodos para vencer, tais como o Homem de Ferro recrutar vilões para o seu exército e o Capitão América aceitar a ajuda de um assassino como o Justiceiro, o tipo de aliança que só esperaria em tempos de guerra.

O único ponto negativo da obra é a falta de informação referente ao que foi publicado em títulos mensais da época. Embora a narrativa principal se mantenha coesa, o leitor que ler apenas essa minissérie irá se deparar com alguns pequenos "furos" de ações sugeridas, mas que não são mostradas aqui. Algo bastante comum nessas mega sagas que se espalham por várias revistas durante meses nos EUA.

A repetição de algumas batalhas não chega a incomodar graças ao fato de elas não serem apenas físicas, mas psicológicas também. E o final é satisfatório, embora não traga em suas páginas a principal consequência direta da guerra: a morte de um importante personagem, que viria a ser publicada depois no próprio título do herói.

Ficha Técnica

Veredito: Embora os eventos que reúnam uma multidão de super-heróis não sejam tão incomuns no mercado de comics (gibis americanos), são poucos os que realmente acrescentam algo de relevante ou sejam pouco mais do que a velha luta do bem contra o mal. Em Guerra Civil o inimigo é bem mais próximo e íntimo, e o lado vencedor não tem muito o que comemorar. Mesmo com algumas falhas decorrentes da confusão comum a uma obra estendida a outros títulos, Guerra Civil tem um roteiro bem elaborado, uma questão instigante, um grande elenco de personagens e ótimos desenhos, que ajudam a valorizar ainda mais essa ótima série em quadrinhos.

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