24/06/2021

Review: Luca


Luca é um garoto que pertence a uma espécie de monstros marinhos. Seus pais, preocupados com sua segurança, o mantém no fundo do mar, proibindo-o de ir à superfície. Mas, um dia ele cria coragem e sai em busca dos seus sonhos.




Luca - Crítica (com alguns spoilers leves)

Luca, o mais novo filme animado da Pixar, chegou sem muito alarde diretamente no serviço de streaming Disney +, trazendo uma história mais leve, ambientada na região da Riviera italiana, baseada nas memórias de infância do diretor Enrico Casarosa, e situada em meados dos anos 1950 e 1960.

O diretor, que já havia produzido o belo curta La Luna para o estúdio, evoca todo o espírito imaginativo e o visual cartunesco de seu trabalho anterior para esse novo filme, embalando-o em uma atmosfera de leveza, simplicidade, humor e inocência, que deve agradar inclusive às crianças mais novas, sem no entanto deixar de emocionar aos adultos.  




Luca Paguro é um garoto monstro marinho de 13 anos, fascinado por objetos estranhos que encontra no fundo do mar, que um dia pertenceram aos chamados monstros terrestres (os humanos). Aterrorizado por histórias contadas por seus pais sobre os perigos de encontrar esses cruéis caçadores, o jovem está sempre refreando a vontade que tem de explorar o mundo da superfície. Até que um dia Luca encontra o intrépido Alberto Scorfano, um outro rapaz, da mesma espécie que ele, e com a mesma disposição para colecionar objetos dos humanos, mas que vive em terra, num antigo farol abandonado.

Ao se encontrar com Alberto, Luca descobre que, em terra firme, é capaz de assumir forma humana e se manter assim, desde que não entre em contato direto com água, algo que rende muitas cenas curiosas durante o filme.

Proibido de ir para à superfície e sob ameaça de ser enviado por seus pais para ir morar com seu estranho tio em águas ainda mais profundas, Luca decide seguir com Alberto para a cidade (ou vila) litorânea de Porto Rosso (nome que homenageia o anime Porco Rosso do estúdio Ghibli), perseguindo seu sonho de ter uma Vespa (um tipo de scooter antiga) e com ela conhecer o mundo.




Após se infiltrarem entre os humanos da vila, Luca e Alberto logo conhecem a esperta Giulietta Marcovaldo, ou Giulia, uma garota extrovertida, que adora ler, mas que tem dificuldade para fazer amizades. Ao ver o convencido Ercole e sua turma de valentões implicando com a dupla, Giulia parte em defesa deles e os três decidem formar um time para participar de uma competição local. Luca vê no prêmio uma chance de conquistar sua tão sonhada Vespa, Alberto só quer ajuda-lo e Giulia, que sempre compete sozinha e perde para Ercole todos os anos, quer provar que é capaz de vencer, desta vez com uma equipe.



Enquanto isso, preocupados com o sumiço do filho, os pais de Luca partem para a vila em busca dele, transformando-se também em humanos quando pisam em terra firme. O problema é que eles não sabem como é a aparência humana de Luca. Isso, somado ao treinamento dos meninos para a competição, e aos sonhos malucos de Luca, que tem sua imaginação ampliada quando descobre em Giulia a mesma disposição para estudar e conhecer coisas novas, rendem alguns dos momentos mais lúdicos e divertidos de todo o filme.

A parte final se inicia com um acontecimento triste, que irá emocionar muita gente, mas que serve para aprofundar melhor os personagens e suas relações, logo retomando o tom aventureiro e "good vibes" que acompanha a obra do início ao fim.




Toda a leveza e simplicidade de Luca o afasta de produções mais celebradas da Pixar, que apostam numa bem sucedida fórmula, aprimorada ao longo dos anos, com várias camadas de profundidade, mas nem por isso o diminui quando o assunto é reflexão. A mensagem do filme, de respeito e acolhimento aos chamados "excluídos" da sociedade é clara e muito relevante, sobretudo nos dias de hoje. A sensibilidade do diretor em colocar isso no filme de forma sutil, e sem levantar bandeiras desse ou daquele grupo, dá um caráter mais abrangente a ideia, permitindo que cada pessoa interprete, ou sinta-se representado, individualmente.

O modo como os italianos são retratados, apesar de caricato, é muito simpático e serve bem ao propósito principal do filme que é o de divertir. O vilão Ercole tem um comportamento detestável mas é o contraponto ideal para que o público identifique com facilidade quem é o verdadeiro "monstro" que ameaça a tranquilidade da vila e dos seus habitantes.

Alguns poderão achar o filme inocente demais, mas esse é, a meu ver, exatamente um dos seus maiores méritos. A amizade pura entre Luca, Alberto e Giulia era comum entre as crianças e pré-adolescentes do passado, onde se passa o filme, e algo muito bacana de se ver, mesmo nos tempos atuais.     




Sobre a produção, é possível notar algumas inspirações do diretor em grandes mestres como Hayao Miyazaki e Federico Fellini, seja no estilo da animação, ou na forma fantasiosa de se contar a história. 

A representação da Riviera italiana, região onde o próprio diretor Enrico Casarosa nasceu e passou boa parte da sua vida, é tão encantadora que dá vontade de ir visitar para passar umas férias. O nível de detalhes da vila fictícia de Porto Rosso e do fundo do mar onde vive Luca e sua família é impressionante, e o efeito de transformação deles ao entrar ou sair da água é fluído e muito caprichado.

Assim como aconteceu em Soul, a música tem grande destaque também em Luca, seja nos muitos momentos cômicos, quanto nos mais emocionais. A trilha, praticamente toda composta de clássicas canções italianas, se encaixa perfeitamente em cada momento, transmitindo toda a euforia ou emoção que a cena exibe.

Após o final arrebatador, os créditos trazem desenhos que ilustram o que acontece depois na vida de Luca e dos demais personagens. Vale a pena também dar uma olhada na cena pós-crédito que é curta mas bem engraçada.


Ficha técnica

 
Veredito: Mais modesta em termos de enredo, quando comparada a outras obras do estúdio, Luca tem o mesmo padrão técnico e de diversão característicos da Disney/Pixar e traz um ar de novidade, mais latino e descompromissado, que deve agradar aos que buscam um filme leve e com um forte tema de amizade. No que diz respeito às questões sociais, o longa se vale de uma camada fantasiosa para tocar levemente em questões como preconceito e temor ao que é diferente, mas mantendo o clima amistoso e bem humorado do início ao fim. Em minha opinião, o diretor acertou em cheio ao deixar as militâncias de lado e produzir algo inspirador, com uma mensagem genuína de tolerância e inclusão de todos, sem exceção e sem citar grupos, e enaltecer uma amizade verdadeira que, na minha visão, cresce e amadurece de forma pura, sem segundas intenções.
 




Curiosidades

* Os personagens principais da animação, Lucas e Alberto, são baseados no próprio diretor (Enrico Casarosa) e seu amigo de infância, também chamado Alberto, que ele conheceu aos 12 anos de idade. Além disso, o cenário litorâneo da Itália também vem de uma inspiração de infância do cineasta — ele cresceu em Gênova, cidade portuária na Riviera Italiana, onde se passa o filme.

* Casarosa inspirou-se, em partes, nos filmes italianos dos anos 1950, incluindo “A Estrada da Vida (La Strada)” e “A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday)”. Pôsteres criados pela Pixar para ambos aparecem no filme. Outras fontes de inspiração incluem mitos, lendas e tradições italianas – desde contos de dragões até a história de um polvo que toca sinos que salvou uma aldeia de um grupo de piratas.

* Para produzir a animação, os cineastas viajaram para a Itália para pesquisar a cultura local, a arquitetura e a sensação geral do ambiente do filme. A comida foi um destaque bem recebido pela pesquisa deles. Casarosa, que é natural da Itália, até convidou os membros da equipe para jantar na casa de seus pais em Gênova.

* Os artistas visuais de Luca deram à personagem Giulia um visual diferente, adotando uma linguagem em formas triangulares – especialmente em seu cabelo e calças. Outra curiosidade é que Luca, em sua forma de monstro marinho, tem 3.436 escamas em seu corpo. Além disso, todas as vozes de fundo de crianças no filme foram gravadas por crianças locais na Itália.

* A atriz Cláudia Raia está em família no elenco de dubladores da versão brasileira da animação. Ela dubla a personagem Signora Mastroianni (uma homenagem ao famoso ator italiano Marcello Mastroianni). E a filha, Sophia Raia, dubla a personagem Chiara. Os protagonistas Luca Paguro e Alberto Scorfano são dublados por Rodrigo Cagiano e Pedro Miranda, respectivamente.


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