Com um visual que lembra um desenho animado da melhor qualidade e uma trama que, embora simples, diverte e deixa um gostinho de "quero mais", Gustavo Duarte faz Chico Bento embarcar na noite mais estranha de sua vida.
Chico Bento: Pavor Espaciar - Crítica
Gustavo Duarte, criador de obras como o álbum Monstros!, publicado pela Quadrinhos na Cia, é conhecido por contar suas histórias apenas com ilustrações, sem qualquer linha de diálogo. E, apesar de ter aberto uma excessão aqui, seus desenhos continuam ditando o ritmo da aventura.
Entre páginas tradicionais, com seis quadrinhos, e grandes painéis de página inteira, o autor brinca com a diagramação, construindo divertidas sequencias que, como o próprio Maurício de Sousa cita em sua introdução, parecem fazer os personagens se mexerem nas páginas.
O próprio traço de Gustavo lembra muito um desenho animado e faz com a que a leitura se torne leve e prazerosa de acompanhar.
Além dos desenhos, o principal destaque desta obra vai para o humor e a inocência que captam com perfeição o jeito "caipira" de ser. Claro que isso é uma característica inata do personagem, mas o autor parece ter ido mais fundo, talvez buscando em suas próprias origens uma caracterização ainda mais engraçada e um sotaque mais próximo ao do "pessoar do interior".
Os poucos diálogos são bastante inspirados e ajudam a tornar as confusões causadas pelos primos e seus bichinhos de estimação, dentro da nave alienígena, ainda mais divertidas.
Não bastasse as referências ao universo de Maurício de Sousa, o autor recheou a edição com pequenas referências culturais, que vão desde Star Wars até um certo "rei do pop". Achar e reconhecer essas homenagens rendem boas risadas e incentivam a releitura.
No entanto, quem quiser saber de antemão o que vai encontrar pela frente, pode ler o apêndice no final do livro que mostra o processo de criação e muitos dos segredos escondidos pelo autor ao longo das páginas.
Apesar de concordar que personagens como o Chico Bento pedem uma certa simplicidade no roteiro, acredito que o autor exagerou um pouco nesse conceito. A trama geral é muito boa e interessante, os alienígenas são assustadores o bastante pra fazer a gente temer pelo destino dos personagens, e o porquinho Torresmo é tão bacana que parece até que a história é dele e não do Chico. Mas, ao final, fica aquela sensação de que pouca coisa aconteceu e que tudo acabou muito abruptamente.
Ou seja, se não fosse pelo trabalho gráfico impecável de Gustavo Duarte, acredito que essa mesma história caberia num quadrinho tradicional, de sete páginas, da revista mensal do Chico Bento. O que não desvaloriza a obra, mas perde na comparação com outras edições desta coleção, geralmente mais complexas e com propostas únicas e originais.
Ficha Técnica
Veredito: Mesmo não sendo, na minha opinião, a melhor edição da coleção, Pavor Espaciar captura o leitor com seu visual que lembra um desenho animado da melhor qualidade e sua trama que, embora simples demais para uma edição especial, diverte e deixa um gostinho de "quero mais". Um excelente trabalho do quadrinista brasileiro Gustavo Duarte que merece ser apreciado devagar, com atenção a cada página.
Galeria
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