06/03/2022

The Batman - Opinião


O filme do Batman que os fãs esperavam!




The Batman • 2022 
Ação/Suspense • 2h56min • 14 anos
Direção: Matt Reeves
Elenco: Robert Pattinson, Zoë Kravitz, Paul Dano, Jeffrey Wright, Colin Farrell, Andy Serkis, John Turturro
Nota: 5,0 (de 5) • Onde Assistir: Cinemas


Opinião (com spoilers)

Matt Reeves é um diretor com uma visão própria e muito pessoal. Ao assumir o filme de um personagem como o Batman já era de se esperar que viesse algo diferente, com altas doses de ação, realismo e críticas sociais. Mas ele foi além, e entregou um Batman sombrio e violento sim, mas também muito humano e um ótimo detetive, como os fãs aguardavam há tempos. 

A trama tem início de uma forma muito estranha (e existe muito de bizarro no filme todo), com um homem observando o apartamento de alguém. Mais tarde essa pessoa, que se revela o prefeito da cidade, é atacada e morta violentamente. O assassino é um psicopata que se intitula o Charada, e deixa uma pista para o Batman. Tem início uma série de homicídios de figurões de Gotham e cabe ao Cavaleiro das Trevas desvendar o mistério por trás de tudo isso e tentar salvar as vítimas. Mas será que esses indivíduos são realmente inocentes?

O modo como o Batman é apresentado, com uma narração do próprio ao fundo e cenas que mostram o quanto Gotham City é suja e está entregue à criminalidade, ficando à cargo do vigilante intimidar e dar uma lição aos meliantes, causa um misto de aversão e empolgação. Nossa primeira visão do herói é de alguém extremamente violento, raivoso, suicida e quase descontrolado. Mas muito eficaz e "bad ass" demais! 

É dito que Batman está em atividade há apenas 2 anos, e isso fica muito evidente depois em cenas em que ele erra e vacila em algumas coisas em que ainda está aprendendo e não domina muito bem. Isso, e o olhar humano de Robert Pattinson por trás da máscara nos permite perceber o quanto o personagem evolui e cresce como pessoa e como herói, ao longo do filme. E pouco atores conseguiriam passar esse sentimento apenas com os olhos de forma tão natural e sem expressar um único sorriso. Ponto para o Sr. Pattinson.


Voltando à trama, o filme traz uma história de investigação de serial killer no melhor estilo de filmes como Zodíaco e Seven, com pitadas de filme noir como Chinatown e momentos de ação dignos de um filme de super-heróis, porém com muito mais tensão e suspense. É incrível como Batman se encaixa perfeitamente em todos esses gêneros, algo que os autores de quadrinhos já sabiam, mas que o cinema ainda não tinha ousado experimentar.

Dito isso, temos aqui o Batman mais perfeitamente adaptado, em toda a sua essência, para os cinemas. Pela primeira vez me senti vendo um filme do Batman em que ele é o protagonista. Nenhum outro parceiro ou vilão, por melhor que seja, chama mais a atenção do que o Homem-Morcego, e acredito que isso é exatamente o que os fãs queriam, e Matt Reeves soube fazer e entregar. 

Robert Pattinson encarnou o Batman. Com a capa, capuz e armadura ele se tornou o próprio herói, agindo como um exímio detetive, como um lutador imbatível, incansável, determinado, obcecado por justiça e por deter o Charada, um inimigo à altura de suas habilidades, e talvez até um pouco além delas. 

O Charada interpretado por Paul Dano é inteligente, cruel, sádico e ainda mais fanático que o Batman em sua missão, que no caso é eliminar os "mentirosos" de Gotham e purificar a cidade, custe o que custar. Inclusive, o vilão considera Batman um aliado e articula meios para que eles trabalhem juntos, ainda que sem a ciência do morcego, para concretizar seus planos. 


A Mulher-Gato, interpretada por Zoë Kravitz é absolutamente hipnotizante. A atriz conseguiu imprimir um charme e sensualidade naturais à personagem, que em nenhum momento a faz parecer frágil ou menos perigosa, muito ao contrário. A química com o Batman de Robert Pattinson é muito boa e vemos várias cenas de parceria que lembram momentos dos quadrinhos, sobretudo os mais atuais. Mas, a gata tem seus próprios objetivos, e deixa isso bem claro para o morcego.

O parentesco de Selina com Romano Falcone também foi tirado de algumas HQs e traz maior profundidade dramática para ambos os personagens. John Turturro, que interpreta Falcone, está ótimo e consegue representar muito bem a figura excêntrica, dúbia e poderosa do mafioso.

O Pinguim de Colin Farrell funciona bem demais como uma espécie de rival para Bruce Wayne e alívio cômico para o Batman. Já o James Gordon de Jeffrey Wright é um fiel escudeiro na luta do paladino da justiça contra o crime, sendo o único policial que apoia e confia nas ações do Batman, mesmo que isso o obrigue a ir contra os seus colegas.

Bruce e Alfred talvez sejam os menos explorados pelo roteiro. Andy Serkis traz a representação de um Alfred um pouco mais distante emocionalmente, ainda que muito leal a seu patrão. Robert Pattinson interpreta Bruce Wayne e Batman com a mesma amargura e raiva incontida, recluso e focado no combate ao crime, sem espaço para questões pessoais ou mesmo para interpretar o papel de playboy bilionário que vimos em outras versões do herói. Segredos de família surgem ao longo da trama, o fazendo questionar sua missão, e esse é o único e maior momento em que Alfred se mostra verdadeiramente importante na vida de Bruce, o único familiar restante para ele, o mais próximo de um pai que ele poderia ter. 

Ao confrontar o Charada e seus seguidores, Batman percebe o quanto o discurso de ódio e vingança pode ser forte e levar para um caminho equivocado e perigoso. Há nesse discurso uma crítica social muito clara e o próprio herói é transformado por isso, encontrando esperança de uma mudança real, não através da revolta, mas sim da compaixão.


Existe bastante realismo no filme, e algumas cenas de crime, embora não explícitas, chegam a ser bem perturbadoras. Mas o Batman não seria o mesmo sem as suas "batcoisas" e algumas delas se fazem presentes, como uma lente de contato que grava vídeo, uma espécie de capa que permite planar sobre a cidade, uma moto invocada, uma armadura ultra resistente, e é claro, o batmóvel e uma batcaverna super equipada. 

No aspecto técnico o filme também é muito bom! A fotografia é incrível e mostra a cidade e a ação de ângulos surpreendentes. A direção é precisa em passear pelo terror de thrillers policiais, cenas de ação espetaculares, e até duelos no melhor estilo dos faroestes. A trilha sonora impacta nos momentos certos. Não considero a melhor trilha dos filmes do homem-morcego, mas com certeza o compositor Michael Giacchino fez um ótimo trabalho.

Veredito: Mas afinal, esse filme justifica a expectativa criada desde o seu anúncio? Sim, muitíssimo! Além de trazer, em minha opinião, o melhor Batman já visto nos cinemas até hoje, desde o visual até a interpretação do que é o herói, tal qual ele existe nos quadrinhos, Matt Reeves conseguiu a proeza de fazer um filme bom em tudo o que ele se propôs, da ação ao suspense, com personagens e diálogos tão interessantes que mesmo as quase 3 horas de duração não cansaram tanto. A escalação do elenco foi perfeita, e mesmo algumas escolhas estranhas, como a do batmóvel, no fim se mostraram acertadas. É melhor do que Cavaleiro das Trevas? Eis aí uma boa discussão. Mas, acredito que esteja à altura e merece (e acredito que vá) iniciar uma nova trilogia. 

Minhas cenas preferidas:
_ A cena de apresentação e perseguição com o batmóvel! O que foi aquilo? Me segurei na cadeira! Adrenalina pura!
_ A cena do interrogatório do Pinguim. Hilária!
_ Todas as cenas do Batman com a Mulher-Gato. Que química deste casal!
_ Batman tomando tiro de metralhadora e fuzil e continuando a avançar. Animal!
_ A cena final antes dos créditos (não há cena pós-crédito neste filme, na verdade há mas é mais uma brincadeira dos produtores) em que aparecem o Charada e, supostamente, o Coringa conversando dentro do Asilo Arkham. Será que o palhaço do crime vai aparecer numa possível sequência?!

Galeria 



Curiosidades

* The Batman não faz parte do DCU (Universo estendido da DC), sendo uma abordagem e uma Gotham City totalmente nova. O diretor Matt Reeves não queria contar uma história de origem, sendo assim, o filme se passa no segundo ano de atividades do herói contra o crime.

* Matt Reeves se interessou em escalar Robert Pattinson para o papel de Batman após ver sua performance em Bom Comportamento, onde, segundo ele, o ator transmite uma grande raiva e angústia interior. O ator aceitou o papel dizendo que Batman se encaixa nos seus papéis recorrentes, um tipo "esquisitão". A roupa usada no teste foi a mesma que George Clooney usou em Batman & Robin, e, segundo Pattinson, ele mal conseguia se mexer dentro dela.

* Matt Reeves disse que uma das inspirações para o seu Batman foi Kurt Cobain da banda Nirvana, pois quando estava escrevendo o roteiro ouviu a música Something in the Way (que inclusive é tocada no filme), e identificou uma celebridade que passou por uma tragédia e se tornou reclusa. Batman Ano Um e O Longo Dia das Bruxas foram algumas das inspirações vindas dos quadrinhos.

* Zöe Kravitz, que interpretou a Mulher-Gato, enfrentou dificuldades para gravar com gatos, porque nem sempre eles obedeciam aos adestradores. “Foi bem engraçado, porque no final das contas você não pode mandar em um gato. Depois de todas as manobras de carros e perseguições, uma das coisas mais difíceis de fazer foi deixar os gatos parados”, conta a atriz. Para o filme, Zöe teve auxílio de um coreógrafo para aprender a “chutar com graciosidade”. Ela também teve que aprender a atirar com armas de fogo, carregá-las e atirar de novo.

* Os roteiristas Peter Craig, Mattson Tomlin e Matt Reeves se inspiraram em serial killers para construir o personagem Charada, interpretado por Paul Dano, neste filme. Uma referência direta foi o Assassino do Zodíaco, que matou 14 pessoas nos Estados Unidos, incluindo adolescentes. Sua identidade nunca foi descoberta. O tom de suspense investigativo claramente bebe da fonte de filmes como Seven, Chinatown, O Silêncio dos Inocentes e o próprio Zodíaco.

* O visual do batmóvel foi inspirado em “Christine, o Carro Assassino”, de Stephen King. 



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