26/08/2020

Review: Entre Facas e Segredos


Com um elenco repleto de atores e atrizes renomados e um roteiro pra lá de original, que bebe da fonte dos clássicos livros de suspense da escritora Agatha Christie, Entre Facas e Segredos é um divertido filme de investigação. 






Entre Facas e Segredos - Crítica (sem spoilers)

Poucas coisas causam tanto entusiasmo e curiosidade quanto ler um romance policial do começo ao fim. Aquela sensação de se ver no papel do investigador tentando descobrir quem foi, como e porque, é algo que mexe com a imaginação e nos desafia a tentar desvendar o mistério antes mesmo da solução, só pra ver se o nosso palpite estava certo.

Sensação semelhante acontece quando jogamos uma partida do clássico jogo de tabuleiro Detetive, ou Clue, onde nos são apresentados pouco mais de meia dúzia de suspeitos e, com base em algumas pistas, temos de descobrir quem é o culpado do crime.  

Mas, apesar de haver muitos filmes e séries de investigação criminal já feitos, poucos tem a habilidade de permanecer interessantes e manter o telespectador ligado mesmo após a revelação do mistério principal. E este, felizmente, é um deles.



O crime

Harlan Thrombey é um milionário que fez sua fortuna como escritor de best sellers policiais e de mistério. No dia do seu aniversário de 85 anos, sua família decidiu preparar uma festa em sua residência, com a presença de todos, desde os membros mais queridos até os parentes mais indesejados. 

No final dessa fatídica noite, um crime acontece. O velho escritor é encontrado morto na manhã seguinte com a garganta cortada. Suicídio, diz a polícia. Mas para o experiente detetive Benoit Blanc, contratado por um benfeitor anônimo, os muitos cômodos da imponente mansão escondem os segredos de um crime hediondo, possivelmente cometido por um dos convidados, ou serviçais, presentes na festa. 
 


Os suspeitos

Como acontece nas melhores famílias, e nas piores também, os Thrombey tem muitos problemas de relacionamento, mágoas e discórdias entre si. Mas isso se agrava substancialmente quando há dinheiro envolvido. No caso, muito dinheiro. Uma herança. Um testamento. A incerteza de ser ou não favorecido pelo patriarca da família ou de perder seus favores caso ele venha a falecer.

E se, numa dessas reviravoltas da vida, o ancião resolvesse aplicar uma lição aos seus parasitários familiares? Quantos deles iriam se ressentir a ponto de passar dos limites?  A quem iria interessar sua morte? 

Talvez um dos seus filhos: o inseguro Walt ou a perspicaz Linda. Ou ainda o preconceituoso marido de Linda, Richard. Sua desonesta nora Joni, ou quem sabe um dos seus netos: o playboy Ransom, a ativista Meg, ou o geek Jacob. Os empregados da casa também estão longe de estar acima de qualquer suspeita. A governanta Fran parece conhecer os segredos da casa, enquanto que a cuidadora  Marta foi a última pessoa a ser vista com Harlan antes da hora fatal.  



O investigador e sua ajudante (ou será a assassina?)

Embora todo o elenco, muito bem servido de atores do calibre de Christopher Plummer, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon e Toni Collette, além de talentos da nova geração como Chris Evans e Katherine Langford, esteja excelente em seus papéis, há dois artistas em especial que se destacam.

O detetive Blanc, magistralmente interpretado por Daniel Craig, não tem nada da postura segura e do ar rebuscado de um agente da Coroa Britânica. Ao invés disso, o sotaque caipira e seu modo meio desleixado induz os investigados a subestimá-lo e, dessa forma, acabar revelando mais do que gostariam. Seus trejeitos e métodos de dedução remetem ao célebre Poirot, protagonista de muitos livros de Agatha Christie, inclusive com direito a muitas pitadas de humor e ironia. Não por acaso o ator foi indicado ao Globo de Ouro como melhor ator de comédia por esse papel.


Outro grande destaque do filme é o trabalho de Ana de Armas como a jovem Marta Cabrera. Todos os sentimentos, da culpa à surpresa, passando por vários estágios de drama e alguns de alegria, são muito bem representados pela atriz, que também foi indicada ao Globo de Ouro por sua atuação.



A produção

Indicado ao Oscar de melhor roteiro original, Entre Facas e Segredos é o resultado do amor de Rian Johnson à esse gênero. O cuidado que o autor e diretor teve ao amarrar todas as pontas da trama, orientar os atores e escolher os melhores ângulos para filmar de forma a criar o clima de mistério e investigação em cada detalhe, em cada objeto e local, é algo realmente digno de elogios.

A trilha sonora e toda a produção também são de muito bom gosto e, não fosse pelos carros e aparelhos modernos que entregam que a história se passa nos dias atuais, poderia se pensar que tudo acontecia no mesmo tempo e lugares dos romances que a inspiraram. 


Ficha Técnica


Veredito: Entre Facas e Segredos é um daqueles filmes que deixam uma satisfação tão grande quando termina que dá até vontade de ver de novo, mesmo já conhecendo o final. Na verdade, o espectador já fica sabendo sobre o mistério principal antes da metade do filme, mas outras dúvidas ficam no ar e aquele gostinho de querer saber mais nunca nos abandona. É notório toda a dedicação do diretor em reproduzir o clima das histórias de detetive, com direito a personagens que tem uma reação estranha quando mentem, velhinhas gagás que podem ter visto tudo e outros recursos que, ao invés de se transformar em soluções fáceis, trazem novas cores e servem como boas adições à história. Por essas e outras é que esse filme é tão bom e pode se revelar uma grata surpresa para quem decidir embarcar nesse mistério.




Curiosidades:

* Entre Facas e Segredos foi indicado a Melhor Filme de Comédia ou Musical, Ator em Comédia ou Musical (Daniel Craig) e Atriz em Comédia ou Musical (Ana de Armas) no Globo de Ouro 2020; Melhor Elenco, Roteiro Original e Filme de Comédia no Critics Choice Awards 2020; e Melhor Roteiro Original no Oscar 2020. 
* O longa teve um orçamento de US$ 40 milhões e obteve uma bilheteria mundial de US$ 162,2 milhões.
Segundo o diretor Rian Johnson, o personagem de Daniel Craig é uma "versão norte-americana de Hercule Poirot", famoso detetive criado por Agatha Christie e protagonista de muitos dos seus livros. O diretor, que também escreveu e produziu o filme, disse ainda que planeja fazer uma continuação focada no personagem de Craig.



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