Liga da Justiça de Zack Snyder - Crítica (sem spoilers)
No ano de 2017 os entusiastas do gênero de super-heróis nos cinemas foram surpreendidos por um filme da Liga da Justiça que, apesar de divertido, não fazia jus à grandeza que se espera da reunião de alguns dos maiores ícones dos quadrinhos de todos os tempos. Afastado do filme por problemas pessoais, Zack Snyder foi substituído por Joss Whedon na direção, o que resultou numa produção remendada que misturava elementos de tons bem distintos, sem chegar a uma unidade que fizesse o filme ser uma experiência além do mediano.
Graças à insistência dos fãs, que acreditaram que o projeto original poderia render algo melhor, a HBO Max patrocinou uma versão especial com o corte idealizado por Zack Snyder, que foi lançado recentemente no serviço de streaming nos EUA e, no Brasil, se encontra disponível via aluguel sob demanda nos serviços Apple TV, Claro, Google Play, Look, Microsoft, PlayStation, Sky, Vivo, WatchBr e UOL Play, de 18 de março até o dia 7 de abril, pelo valor de R$ 49,90. Mas será que vale a pena?
Mesmo filme, mas muito melhor!
Aos que estão se perguntando se a nova versão é totalmente diferente da anterior, a resposta é não. O filme possui a mesma estrutura narrativa e a mesma trama já vista no longa de 2017, porém, a forma de contar a história, essa sim mudou, e fez muita diferença! De modo que sim, vale a pena dar uma chance a essa versão de diretor do Zack Snyder, desde que, claro, você curta filmes de super-heróis e não desgoste da fotografia escura, cenas com cara de vídeo clipe, câmeras lentas e do clima mais denso, que normalmente caracterizam os seus trabalhos.
Dentre as muitas melhorias dessa nova versão, destaco o cuidado do roteiro em não deixar pontas soltas, trazendo de volta cenas totalmente descartadas, como boa parte do arco de origem do Cyborg, e outras melhor trabalhadas como as sequencias que envolvem a busca e captura das caixas maternas, e o retorno do Superman, que aqui ganhou um peso muito maior e respeitoso. A ligação com Batman vs Superman, que aliás é um ponto de partida para esse filme, e os demais longas do universo DC lançados até aquele momento é muito bem feita e coerente, trazendo a sensação de se estar vendo a conclusão de uma obra maior e digna de mais, algo que eu não senti assistindo ao filme de 2017.
Darkseid é.
Todos os personagens ganharam um melhor desenvolvimento nessa versão, com destaque para o Cyborg. Além de ter seus poderes melhor explicados, seu passado, sua relação com os pais e sua ligação com as caixas maternas dão maior profundidade às suas ações e motivações.
O Flash também se beneficiou de um tempo maior de tela, e deixou de ser só um alívio cômico, tornando-se um membro realmente valioso para a equipe que, como um todo, também foi mostrada de um jeito diferente, agindo como um time, onde as habilidades de cada um são aproveitadas em prol do grupo e da missão, como sempre deveria ter sido.
Mas de todos, a mudança mais visível ocorreu no vilão Lobo da Estepe. E não estou falando apenas do visual bem mais intimidador, apesar dos efeitos que deixam um pouco a desejar, mas sim da sua personalidade. Antes um "chefão" genérico e fanfarrão, típico de alguns jogos de videogame, que só sabia bater e dizer meia dúzia de frases de efeito, o vilão agora demonstra sentimentos como orgulho, medo, devoção, arrependimento... E o motivo dessa mudança atende pelo nome de Darkseid.
Introduzir o senhor de Apokolipse ao filme por si só já elevaria o nível de ameaça da tarefa dos heróis às alturas, ainda mais pela revelação inédita de que a Terra esconde um segredo que interessa ao vilão. Mas Snyder fez mais. O temor pela simples menção do nome de seu mestre, deu ao Lobo da Estepe um senso de urgência muito mais justificável à captura e união das caixas, e a cena onde Diana narra a primeira vinda de Darkseid ao nosso planeta é espetacular, muito superior à mostrada no filme de 2017 com o Lobo da Estepe no lugar. Dando mostras do tom épico que o diretor almejava em sua versão definitiva.
Épico sim, como os fãs esperavam!
A fotografia sóbria e melancólica, bem diferente da versão colorida e amigável de Joss Whedon, deixa claro que o filme lida, de forma mais séria, com temas maduros tais como perda, luto e desespero, algo reforçado pelas cenas de luta, que agora trazem algumas mutilações, e personagens com um linguajar mais pesado. Isso não quer dizer que não exista espaço para o humor no filme, mas ele surge de maneira mais natural, conforme os heróis vão se conhecendo, e não tão forçado quanto no filme de Whedon.
O mais notório, no entanto, é o tom épico adotado por Snyder, seja nos enquadramentos, na trilha sonora e, principalmente, nos combates. O diretor de 300 mostra que ainda sabe empolgar a platéia com cenas de tirar o fôlego. É verdade que muitas delas já estavam, em parte, na versão anterior, mas aqui elas aparecem bem mais completas e grandiosas. Mesmo cenas mais comuns como, por exemplo, o alerta das amazonas à Diana, ganhou todo um contexto histórico e mitológico que tornou a sequencia bem mais interessante.
É claro que esse nível de detalhes tem um custo, e isso se reflete na longa duração, mais de 4 horas, do filme. Em minha opinião, com um ajuste fino poderia se chegar a algo em torno de 3 horas e meia, cortando uma ou outra cena que serve apenas para reforçar uma ideia já vista numa cena anterior. Mas o fato de o filme ter sido dividido em 6 capítulos e ter um bom ritmo, principalmente do meio pro fim, torna a experiência bem menos cansativa e bem mais prazerosa do que se poderia esperar. Apesar de o formato reduzido de tela, adotado pelo diretor, causar estranheza num primeiro momento.
A produção ainda está repleta de ótimas, e bem vindas, referências para os fãs dos quadrinhos. Algumas dessas referências aparecem no epílogo. Mas, apesar de funcionar muito bem como fanservice e possivelmente como boas cenas pós créditos, como epílogo elas passam um tom que é contrário ao final do filme, que é esperançoso, ainda mais se pensarmos que uma continuação para essas idéias será muito difícil de acontecer.
Ficha técnica
Veredito: Uma vitória e uma carta de amor aos fãs, é como poderia ser definido esse filme. Muito superior em conteúdo e execução à versão lançada nos cinemas em 2017, a Liga da Justiça de Zack Snyder, apesar de à princípio parecer mais do mesmo, é um filme mais completo, mais coeso e muito mais épico, que retrata com maior grandiosidade e fidelidade cada indivíduo dessa equipe formada pelos maiores heróis da DC, enfrentando uma ameaça finalmente digna de seus esforços. Sendo assim, recomendo esse filme não como uma obra perfeita do cinema, mas como algo que merece ser visto, degustado, em casa, e lembrado como algo excepcional, um evento, fruto da dedicação de muitos, que raramente irá se repetir.
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